22/05/13

Como vencer seus maiores medos em relação e aposentadoria

 Uma pesquisa mundial do HSBC divulgada no início deste ano mostrou o quanto pessoas de todas as idades (a partir dos 25 anos) estão financeiramente despreparadas para a aposentadoria – incluindo os brasileiros. Além disso, o levantamento lista os maiores medos das pessoas em relação ao momento de pendurar as chuteiras. Esses medos refletem o despreparo: quase todos se relaciona, direta ou indiretamente, a dificuldades financeiras.

 
1. Dificuldades financeiras e não ser capaz de realizar as aspirações
 
As dificuldades financeiras foram citadas por 57% das mais de 15 mil pessoas ouvidas em 15 países como um dos principais medos em relação à aposentadoria. Em quarto lugar, veio o medo de não ser capaz de realizar as aspirações – que muitas vezes podem depender de dinheiro – citado por 31% das pessoas como um dos maiores temores.
 
Para se prevenir desse medo, não há outro jeito, dizem especialistas. É preciso poupar o máximo possível, acumular patrimônio e, quanto mais cedo de começar, melhor. Mas não só: é importante ter uma reserva especialmente voltada para a aposentadoria, uma previdência complementar mesmo, o que, no entanto, não é um hábito muito comum.
 
A pesquisa do HSBC mostrou que 48% das pessoas nunca pouparam especificamente para a aposentadoria. No Brasil, diz o levantamento, esse percentual é consideravelmente maior: 64% dos entrevistados.
 
Segundo Alexandre Canalini, CFP, planejador financeiro certificado pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Planejadores Financeiros (IBCPF), previdência complementar é fundamental. Ele acredita que, como produto financeiro, o plano de previdência privada seja o mais completo. Mas não descarta as possibilidades de se poupar por meio de outras aplicações financeiras, desde que com constância e especificamente para a aposentadoria.
 
“O plano de previdência privada tem um incentivo fiscal e regras que estimulam a formação de poupança”, explica. Ele se refere à possibilidade de se escolher a tabela regressiva de imposto de renda, cuja menor alíquota, ao fim de dez anos, é de apenas 10%. Em qualquer outro fundo de investimento que não seja de previdência, a menor alíquota possível, após dois anos de investimento, é de 15%.
 
Na opinião de Canalini, o plano tipo Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) é o mais interessante, pois o IR incide apenas sobre a rentabilidade, e não sobre todo o montante aplicado. Mas essa modalidade é melhor para quem usa a declaração simplificada do IR. Para quem usa a completa, existe vantagem também em investir no Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL), que permite abater da base de cálculo do imposto as contribuições para previdência até um limite de 12% ao ano.
 
“A desvantagem é que, quando você efetuar os resgates, vai pagar imposto de renda sobre todo o montante, não só sobre o rendimento”, diz Canalini. Mas como se trata de um adiamento do pagamento do IR, e não de uma isenção, é preciso fazer valer a vantagem. O planejador financeiro aconselha o poupador a direcionar, todos os anos, o valor de imposto que deixou de ser pago para uma aplicação financeira, como um CDB ou mesmo um VGBL. O dinheiro deve ser mantido lá pelo menos até que se atinja a menor alíquota de IR.
 
Para escolher um bom plano, Canalini aconselha que o investidor compare os históricos de rentabilidade, que já vem líquida de taxa de administração. E lembra: se o fundo investir apenas em renda fixa, taxas de administração altas pesarão muito na rentabilidade. Já os fundos que podem investir em outros ativos, como os multimercados ou de ações, são menos afetados por esse custo, pois têm outros meios de buscar mais rentabilidade.
 
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Ele também chama atenção para outros custos que esses fundos podem ter, e que fundos de investimento comuns não tem. A taxa de carregamento, por exemplo, é cobrada a cada aporte, e deve ser evitada. “Ela é altamente negociável, principalmente para aportes maiores. Recomendo um aporte mais volumoso, uma vez ao ano, para o investidor obter taxa de carregamento zero”, aconselha.
 
Canalini também recomenda que o investidor evite fundos que tenham taxa de saída, cobrada na hora de se fazer resgates antecipados.
 
Há, contudo, outras alternativas aos planos de previdência abertos. O poupador pode optar por investir por conta própria em CDBs ou títulos do Tesouro Direto atrelados à inflação ou em um fundo de investimento comu, lembrando que nesses casos não haverá as vantagens fiscais – e que a alíquota mínima de IR será de 15%. Outra opção são os fundos de pensão oferecidos pelas empresas, que têm custo baixíssimo para o investidor e, normalmente, contam com aportes do empregador.
 
2. Falta de saúde, não ter dinheiro suficiente para planos e tratamentos de saúde e passar da aposentadoria “ativa” para a “passiva”
 
O segundo medo mais citado pelos entrevistados na pesquisa do HSBC foi a falta de saúde (54%). Embora seja um temor em si mesmo, a falta de saúde vem acompanhada da falta de condições para os cuidados com a saúde. Não ter dinheiro suficiente para planos e tratamentos de saúde, por sinal, foi o terceiro medo mais citado, por 46% das pessoas.
 
Um medo menos comu, mas que foi citado por 17% das pessoas, foi a passagem da aposentadoria “ativa” – a fase em que ainda se goza de saúde para trabalhar e se divertir – para a aposentadoria “passiva” – fase posterior, em que o descanso deve ser prioridade e os gastos com saúde se tornam mais pesados.
 
Em função do peso dessas despesas, é fundamental ter um orçamento e um planejamento financeiro desde cedo. E quanto mais detalhados, melhor. De acordo com Alexandre Canalini, quem tem um orçamento bem desenhado consegue fazer tudo que é necessário e ainda poupar todos os meses. “Quem poupa a vida inteira consegue multiplicar o dinheiro. E nossa taxa de juros ainda é razoável para isso”, observa.
 
Gastar menos do que se ganha e cuidar da saúde ao longo da vida são maneiras de mitigar os riscos de não conseguir arcar com boa parte dos gastos na aposentadoria. Outra boa ideia é contribuir para a previdência pública, caso você não seja assalariado e precise fazer essa opção ativamente. A Previdência Social dispõe de seguros, como aposentadoria por invalidez, além de garantir um ganho mínimo na velhice.
 
Na opinião de Alexandre Canalini, o planejamento da aposentadoria deve prever, no mínimo, que 20% do orçamento serão destinados ao pagamento do plano de saúde. “Acho um percentual bem razoável. Tenho um casal de clientes com mais de 70 anos que paga, para cada u, 3 mil reais por mês de plano de saúde”, conta.
 
Em suas conclusões, a pesquisa do HSBC recomenda que as famílias tenham uma reserva de emergência e seguros que garantam renda em momentos de reveses financeiros, como um período prolongado de desemprego ou doença de um dos provedores. Já existem seguros que cobre, por exemplo, a invalidez e a perda de renda temporárias de profissionais autônomos.
 
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Isso porque esses imprevistos em geral interrompem de forma dramática a poupança para a aposentadoria, podendo até levar as famílias a mexer nessas reservas de longo prazo. Outra conclusão da pesquisa é que é recomendável fazer um planejamento financeiro detalhado com a ajuda de um profissional da área.
 
3. Ter que trabalhar por mais tempo que o desejado ou não ser capaz de trabalhar
 
Duas respostas antagônicas apareceram entre os maiores medos dos entrevistados: 27% deles temem precisar trabalhar por mais tempo que o desejado e 24% temem não serem capazes de trabalhar depois de aposentados. A raiz de ambos os temores, poré, é a mesma. A necessidade de continuar trabalhando, mesmo após aposentado, para conseguir se manter.
 
Para especialistas, poré, esta é uma realidade que os brasileiros devem começar a aceitar e para a qual devem se preparar. “Nossa expectativa de vida subiu muito. Em condições normais, um homem chegar a uma idade entre 80 e 85 anos e uma mulher viver até os 90 a 92 anos é esperado e razoável”, diz Alexandre Canalini, que acredita que trabalhar por mais tempo, além dos 60 ou 65 anos de idade, será inevitável.
 
“O sujeito que ganha 8 mil reais durante a vida ativa tem a renda reduzida à metade após se aposentar. As pessoas continuam a trabalhar porque precisam. Se não, não conseguem manter o padrão de vida”, comenta Canalini. Ele lembra ainda que construir um patrimônio para consumir ao longo da aposentadoria ficou mais difícil com a redução na taxa básica de juros. Atualmente, o ganho acima da inflação é de cerca de 1% em aplicações financeiras mais conservadoras, quando há poucos anos atrás era possível vencer a alta de preços com folga e fazer o patrimônio crescer na renda fixa.
 
Para o também CFP Fernando Meibak, sócio da consultoria Moneyplan e autor do livro “O Futuro Irá Chegar! Você Está Preparado Financeiramente para Viver até os 90 ou 100 Anos?”, trabalhar além da idade mínima de aposentadoria é uma “realidade inescapável”. “Se você parar de trabalhar aos 60 anos e viver até os 90 anos de idade, vai precisar de uma reserva enorme para suportar 30 anos de vida sem renda de trabalho”, observa.
 
Poré, ele lembra que por volta dos 40 ou 50 anos, boa parte das pessoas já começa a ter dificuldade de se realocar no mercado, caso percam o emprego. Caso precise deixar a empresa onde trabalha em torno dos 60 anos, a pessoa provavelmente não conseguirá um novo emprego mesmo. Por isso, Meibak recomenda que, desde cedo, as pessoas se preparem para ter uma segunda carreira na maturidade ou mesmo para empreender.
 
“Muita gente chega à maturidade sem ter pensado que chegaria ali fora do mercado de trabalho. Tenho muitos clientes na faixa dos 50 anos com dificuldades financeiras importantes, que saíram do mercado e não conseguem mais se reinserir”, conta Meibak. Para ele, é preciso ter um planejamento de carreira que vislumbre essa possibilidade, além de ter um plano B profissional.
 
Meibak acredita que as pessoas devem estar abertas a mudanças para novas carreiras, mais flexíveis e menos tradicionais, bem como se tornarem empreendedoras, consultoras ou mesmo seguir a vida acadêmica. Além de reduzir os problemas financeiros, essa segunda fase ativa também é capaz de combater alguns dos outros medos citados na pesquisa do HSBC: Solidão (28%), perda de memória (27%) e tédio (25%).