Crian as e educação  financeira: bons hábitos que podem mudar o futuro
27/11/15

Crian as e educação financeira: bons hábitos que podem mudar o futuro

20151027-dinheirama-habitos-criancasTodas as pessoas tem hábitos. Alguns bons, outros nem tanto. Seguindo o pensamento de Aristé teles de que as virtudes são adquiridas pelo exercé cio, a educadora e palestrante Ana Paula Pregardier desenvolveu o mé todo lé dico-vivencial de formação de hábitos de Educação Financeira.

Reconhecido cientificamente por entidades acadêmicas do Brasil e da Ré ssia, o mé todo ajuda a despertar nas crianças a conscié ncia de gastos conscientes.

Ana Paula também é sé cia da Intus Forma, empresa de formação e desenvolvimento do potencial individual das pessoas. Sua atuação se dé atravós da conscientização e formação de hábitos para proporcionar um estilo de vida consciente e sustenté vel ao indivé duo e é sociedade. Confira como foi nosso papo:

Ana Paula, conte um pouco da sua trajeté ria e do seu trabalho na Intus Forma.

Ana Paula Pregardier: Sempre fui uma apaixonada pela formação e desenvolvimento de pessoas. Quando adolescente investia meus dias em trabalhos voluntários, geralmente com crianças na situação de vulnerabilidade economica e social.

O tempo passou, fiz a faculdade de Administração de Empresas e comecei a trabalhar na área bancé ria. Segui estudando, pé s, MBA, outra pé s, outro MBA (si, eu adoro estudar!). Segui trabalhando, até que me encontrava em um bom cargo, bé nus, viagens e etc.

Nesse momento, comecei a dar palestras sobre o uso consciente do dinheiro, educação financeira e economia domêstica pelo banco (foram 14 anos). Continuei estudando, abri a Intus Forma e comecei a dar palestras.

Mas eu sabia que tinha que encontrar um jeito de ligar as duas coisas que amava: desenvolvimento de pessoas (crianças, principalmente) e planejamento financeiro.

Comecei a estudar na cé tedra de Psicologia na Universidade Estatal de Sé o Petersburgo, na Ré ssia, e foi aé que veio a ideia de entender como funcionam nossos hábitos, pois em geral são eles que complicam nossa vida financeira.

Normalmente, as pessoas até sabem onde erra, mas a grande questão é porque não mudam; ou, porque criamos esses hábitos não funcionais. A partir desses estudos que descrevi e formalizei o mé todo lé dico-vivencial de formação de hábitos.

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Qual a importância da inserá é o da educação financeira ainda na infé ncia?

A. P. P.: A Educação financeira é importanté ssima, mas pergunto: Qual educação financeira que queremos? Consciente ou mecanicista? A palavra Finané as (lat. finé ntia) significa já a defini o amigé vel de uma situação ou contenda já .

Assim, falar Educação Financeira não deveria representar apenas falar de dinheiro, mas sim falar das formas amigé veis, é teis e funcionais de se resolver as coisas.

Aqui cabe uma contextualização importante: com o tempo, o dinheiro come ou a ser usado para mediar as trocas e, assim, ele era já a forma amigé vel já de se resolver muitas situações. Por isso que o significado ficou tão ligado que, hoje, quando pensamos em finanças, pensamos em dinheiro.

Assim, quando pensamos em educação financeira para crianças precisamos pensar também no desenvolvimento de valores, de é tica e de incentivar escolhas responsé veis.

Quando falamos de escolhas responsé veis para crianças, falamos por exemplo da criança come ar a cuidar para não perder mais o material escolar, pois se ela perder, o papai e a mamé e teráo que comprar de novo. E se tiverem que comprar de novo, não sobraré dinheiro para outras coisas.

Ou seja, estou falando de trazer essa educação financeira para o dia a dia da criança, que atravós do exercé cio de pensar e escolher come aré a ser mais consciente.

Com qual idade devemos iniciar a educação financeira?

A. P. P.: A Educação Financeira faz parte da vida, em todas as idades. A formação dos hábitos financeiros se dé desde muito cedo, pois não falamos apenas de dinheiro. Por exemplo, uma criança que cresce em um ambiente onde todos cuidam das contas e participam juntos das decisões financeiras veré como natural aquele comportamento.

Farei um paralelo para exemplificar: você já tentou entrar em um carro e não colocar o cinto de segurané a com uma criança junto? Hoje em dia, se não colocamos o cinto, a criança nos corrige e diz para colocé -lo. Por que isso acontece? Porque desde que nasceu ela aprendeu que era assim, e colocar o cinto para ela é tão natural e é bvio que ela não faz esforé o para isso.

Com a tecnologia (celulares, tablets e etc.) acontece a mesma coisa. Elas tem muito mais facilidade que os adultos, já que, desde pequenas, desenvolveram traé ados mnós icos (caminhos neuronais e informacionais) que respondem é quilo que aprenderam. Por isso que nós adultos temos muito mais dificuldade de mudar. E é por esse motivo que é importante proporcionar um ambiente de educação financeira para a criança desde cedo.

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Quais as principais lié ões sobre educação financeira você pode citar?

é A.é P. P.: Acredito que as fundamentais são:

  1. O dinheiro é sé um meio; um meio para facilitar as trocas, assim como a televisão é um meio de comunicação e o carro um meio de transporte;
  2. O dinheiro não é bom ou rui, tudo depende do que fazemos com ele (assim como um carro pode ser bom ou uma arma);
  3. Cultive uma cultura de é tica e responsabilidade. Se tivermos escolhas é ticas e responsé veis viveremos melhor e de forma sustenté vel;
  4. Valorize as pessoas, até porque se não existissem as pessoas, o dinheiro não existiria;
  5. Dinheiro não dé em é rvore, mas deve ser cultivado da mesma forma que cultivamos as plantas. Primeiro pegamos a sementinha (o que sabemos fazer), depois plantamos (come amos a fazer), depois não adianta plantar (trabalhar) e deixar a plantinha sem cuidados (qualificação, esforé o e empenho). Enté o, continuamos cuidando e regando, assim as flores e frutos viré o. Essa é uma lógica que as crianças entendem quase melhor do que os adultos.

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é Como levar esse tema ao universo infantil, visto que muita gente grande também não entende direito como cuidar do seu dinheiro?

A.é P. P.: Diferente dos adultos, não adianta falarmos para uma criança: já guarde X% da sua mesada para o futuro porque é importante já . A percep o de tempo para a criança é diferente, por isso devemos buscar nas coisas simples e do dia a dia da criança.

Aqui um exemplo: se os brinquedos ficarem espalhados, o que pode acontecer? Algué m pode pisar e quebrar muitos deles. Se quebrar, o que acontece? O papai e a mamé e teráo que comprar de novo e não vai sobrar dinheiro para comprar brinquedos novos.

Essa lógica vale também para as roupas, tânis, material escolar, a comida que fica no prato sem comer e por aé vai. Tudo isso é economia que é palpé vel para uma criança.

Outra forma legal é deixar que a criança fique junto quando os adultos estiverem falando sobre dinheiro, fazendo planos ou lista de compras. Evidente que ela não vai saber calcular, mas o falar, pensar e conversar sobre o assunto já será algo natural para ela (lembrem-se da tal formação dos traé ados mnós icos que respondem pelos nossos hábitos).

Muitos pais utilizam a compensação durante a criação de seus filhos, dando-lhes dinheiro em vez de aten o. Como isso interfere na educação financeira destas crianças e adolescentes?

A. P. P.: Esse é um ponto delicado. Quando temos uma primeira experié ncia com impacto decisional-emocional (que é o caso da primeira vez que a criança recebe dos pais dinheiro para compensar a falta de aten o e ela aceita), isso cria um registro, um caminho da informação no cérebro. E nosso cérebro, por uma fun o de economia de aten o, tende sempre a repetir o mesmo caminho quando se dé o mesmo gatilho.

Ou seja, quando os pais fazem isso, eles estão ensinando a criança que ela não precisa se preocupar com as outras pessoas, desde que pague por isso (pague com dinheiro, presentes e etc.).

Em um curto espaís o de tempo isso pode não parecer tão devastador, mas vamos lembrar que o ponto-chave aqui é o gatilho, o start que dispara aquela resposta.

Assim, quando adulto, é bem possé vel (a menos que exista outro impacto decisional-emocional que quebre esse caminho) que essa pessoa ache normal maltratar um funcioné rio ou um prestador de serviço. Afinal, ela está pagando por isso.

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Qual a maior dificuldade que os pais enfrentam na hora de ensinar os filhos a lidar com dinheiro? E qual o maior erro que cometem?

A. P. P.: Lidar com o dinheiro é lidar com escolhas. E escolhas implicam na responsabilidade (Lat. respondere = responder) de responder pelos resultados. O aprendizado e a formação de hábitos sé acontecem quando a pessoa/criança vive a escolha decisional-emocional.

Vejo que a maior dificuldade que os pais tem é deixar que as crianças vivam essa experié ncia. Geralmente, na é nsia de ensinar o melhor caminho (com o maior amor e boa vontade), os pais não dão a oportunidade de a criança percorrer o caminho lé gico até a escolha e com isso registrar (traé ado mnós ico) que essa é a melhor forma.

Ana, obrigado pela disponibilidade. Gostaria que você deixasse uma mensagem final sobre educação financeira e filhos para nossos leitores.é

A. P. P.: Gostaria de deixar uma dica aos pais que querem educar seus filhos financeiramente: Pergunte, perguntem muito! Se vocês fizerem perguntas, as crianças vé o conseguir chegar a escolha financeiramente mais coerente e responsável!

Isso ajudaré seus filhos a não apenas guardarem mecanicamente moedas no cofrinho, mas saber o porqué e para que estão guardando. A sim o hábito de economizar fará sentido e perduraré .

Sei que minhas dicas exigiré o um pouco mais do que dar um cofrinho ou dizer para eles guardarem as moedas, mas acredito na conscientização das pessoas e não na mecanização.