22/01/13

Educação financeira come a na infé ncia

A educação financeira desde a infância é cada vez mais necessária para que sejam evitados problemas com o dinheiro no futuro. De acordo com pesquisa da Boa Vista Serviços, 17% dos inadimplentes – o que significa a maioria da população, considerando as faixas etárias – têm entre 31 e 35 anos. "Eles compram carro e apartamento e não conseguem pagar, tudo é resultado da falta de educação financeira", explica o especialista e fundador da Academia do Dinheiro, Mauro Calil.

Escolas da região do ABC já levaram o conceito de finanças pessoais para a grade curricular de crianças e jovens. Desde o início do ano, 1.800 alunos do Colégio Termomecanica, em São Bernardo, com idade entre cinco e 17 anos, recebem conteúdo relacionado ao uso consciente do dinheiro e dos recursos naturais. As aulas são quinzenais e duram 50 minutos cada. "Tudo para ter um jovem mais preparado na hora de enfrentar o mundo adulto. É a criança que aprende a administrar a mesada hoje e o salário no futuro", explica a diretora pedagógica da instituição, Cristina Favoran Tuga.

Ana Rosa Vilches, gerente do Instituto Dsop de Educação Financeira, responsável pela metodologia usada pelo colégio, explica que uma das atividades aplicadas em sala de aula é a construção de cofrinhos com material reciclável. Os estudantes também são estimulados a colocar no papel seus sonhos de curto, médio e longo prazos – que, no caso das crianças, vão de três meses a um ano. "Como eles são pequenos, o objetivo, pode ser simplesmente comprar um chocolate."

Cristina acrescenta que para os alunos do Ensino Médio, o corpo docente foca em conteúdo mais complexo – como mercado financeiro, especialmente aplicações em Bolsa, além de conceitos econômicos. Apesar do papel importante dos colégios na formação, a especialista em educação financeira Cássia D’Aquino Filocre lembra que a família é peça fundamental no processo. "A escola é apenas coadjuvante."

O educador Calil explica que quando os pais têm uma relação saudável com o dinheiro fica mais fácil transferir o ensinamento aos filhos. "É muito mais fácil ensinar pelo exemplo. Mesmo que consiga passar a teoria, se os pais vão ao shopping e nunca saem de lá sem sacola, por exemplo, eles vão descaracterizar o que foi ensinado."

Enzo Ponteli Cunha, 5 anos, começou a guardar as moedas que recebe dos pais no início do ano. Com as economias já comprou boneco, videogame de mão, que contou com um empurrãozinho dos pais, e um jogo de cartas. "Ele sempre me pergunta se dá para comprar alguma coisa com o dinheiro", explica a mãe Luciana Ponteli, moradora de São Bernardo. O pequeno, que planeja adquirir um novo brinquedo com as moedas que está ganhando, já aprendeu qual a importância de se fazer um pé de meia. "É para no futuro, comprar um carro e uma casa", reitera o garoto.

Para encher o porquinho, Enzo já sabe que precisa fazer tarefas em casas – como guardar o pijama e ajudar a organizar o quarto. Poré, Ana, do Dsop, não aconselha trocar os serviços domésticos por dinheiro. "Tudo o que fizer, a criança vai querer algo em troca. Ela só vai fazer pelo dinheiro e não valorizará outras questões, como por exemplo, o fato de que ela tem que ajudar em casa, mesmo sem recompensa."

A especialista recomenda incentivar o racionamento de água e energia elétrica dentro de casa, por exemplo. "A mãe pode dizer que se sobrar mais dinheiro dá para engordar a viagem da família."

Entretanto, os especialistas reiteram que é aconselhável o pagamento de semanadas ou mesadas para que os filhos aprendam a administrar o dinheiro que ganham. Se o recurso acabar antes do dia do pagamento, a orientação é não repor os valores. A quantia dependerá da condição financeira dos pais. "Quando crescer, ele não vai poder pedir adiantamento ao chefe. A infância é o laboratório da vida real", aconselha Calil.

A formação de poupança para os filhos é uma iniciativa que pode ser adota pelos pais. "É o momento de trazer o adolescente para perto. Se ele quer fazer uma viagem mais cara, por exemplo, os pais devem explicar que não vai sobrar dinheiro para comprar um carro no futuro ou pagar a faculdade que ele quer fazer", acrescenta Calil.