23/08/12

Educação financeira evita que crédito comprometa or amento

Políticas de estímulo ao consumo via acesso ao crédito são usadas com sucesso desde o fim do governo Lula.
Hoje, com a Selic em seu mínimo histórico e a redução dos “spread” bancários podemos afirmar que o brasileiro nunca teve tantas facilidades de acesso ao crédito 
Contudo, os efeitos colaterais dessas políticas estão cada vez mais evidentes.
Segundo a ProTeste, as famílias brasileiras compromete, em media, 42% da sua renda com o pagamento de dívidas. As linhas mais utilizadas são o cartão de crédito e o cheque especial, quem em inúmeros casos ultrapassam a taxa de 200% ao ano.
Os números são alarmantes e devemos refletir sobre a principal causa desses resultados: a (falta de) educação.
Apesar de ser a sétima economia do mundo, o Brasil amarga o posto de 88º país no ranking de educação da Unesco, quase metade dos trabalhadores brasileiros sequer completam o ensino fundamental e cerca de 16% são analfabetos funcionais.
Tal precariedade faz com  que muitos usem o crédito seguindo a “lógica da parcela no bolso”, ou seja, o brasileiro observa apenas se a parcela cabe na sua renda, sem se preocupa com juros abusivos e com o custo total.
Além disso, por permitir a aquisição de bens até então inacessíveis, o crédito causa uma espécie de deslumbramento que leva as pessoas a parcelar uma quantidade cada vez maior de compras.
A certa altura, são tantas parcelas que fica até mesmo difícil de o consumidor se lembrar de todas, o que induz a uma espécie de “bola de neve”, pois muitas famílias contraem novos empréstimos com juros mais altos para pagar dívidas antigas.
O crédito é como um carro: pode melhorar as nossas vidas, mas, quando em mãos de pessoas que não sabem usá-lo, pode ser catastrófico.
Por isso para manter a sustentabilidade do crédito no Brasil, é imprescindível investir em educação.

Samy Dana é PhD em finanças e professor da EESP-FGV.
Miguel Bandeira é graduando em economia pela EESP-FGV, consultor e conselheiro da CJE-FGV.

Folha de São Paulo – caderno B4 mercado – 15/08/2012