01/10/13

Reserva estrat gica

 Se os 3 milhões de participantes dos 2 mil fundos de pensão que existem no Brasil olhassem para a rentabilidade de seus investimentos hoje, poderiam tomar um susto. Isso porque o péssimo rendimento da Bolsa até junho deste ano contribuiu para que o seu patrimônio diminuísse 1,50% no primeiro trimestre e 0,69% no semestre. Parece pouco, mas se aplicado sobre os R$ 668 bilhões que as entidades tinham ao final de 2012, significa R$ 11 bilhões a menos no bolso.

 
Claro que quando se fala em previdência não se deve fazer uma leitura tão simplista nem considerar apenas o retrato atual. O ideal é avaliar o desempenho da indústria no longo prazo e como ela se prepara para lidar com os desafios que se impõem pela frente. Nos últimos dez anos, foi possível ver um avanço significativo na performance dos fundos de pensão no país. Eles praticamente dobraram de tamanho, dos R$ 320 bilhões em ativos em 2004 para os atuais R$ 657 bilhões, mantendo uma rentabilidade anual de 12,32% – acima da meta atuarial média medida no período, de 11,76%, segundo cálculos da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) e do Banco Central.
 
Mas uma questão preocupa a indústria: a determinação do órgão regulador, Previc, de que os déficits dos planos sejam resolvidos em no máximo um ano (prorrogável por mais u, em alguns casos). Da crise de 2008 para cá, os gestores tiveram que conviver com os solavancos do mercado. Após um gordo resultado em 2007, quando a rentabilidade de seus investimentos ficou em 25,88%, a crise internacional arrastou os preços das ações para o fundo do poço provocando um encolhimento de seus ativos financeiros de 1,62%, para R$ 445 bilhões, à época, deixando muito a desejar a meta atuarial daquele ano, de 12,87%. A recuperação veio nos anos seguintes, com uma leve escorregada em 2011, quando os fundos tiveram rentabilidade de 9,80%, longe da meta de 12,44%. No ano passado, o resultado foi melhor, avanço de 15,37%, ante a meta de 12,57%.
 
O maior fundo de pensão do país, o Previ, dos funcionários do Banco do Brasil também sentiu. Dono de um patrimônio de R$ 167 bilhões, com quase 200 mil participantes entre ativos, aposentados e pensionistas, fechou 2012 com 12,62 % de rentabilidade. Este ano, no entanto, a situação de seus investimentos se inverteu e acompanhou o mau humor do mercado. Com uma exposição em bolsa bem maior do que a de outros fundos – 60% -, seus ativos encolheram 3,85% até junho, com leve recuperação em julho, de 1,69%. "O importante é dizer que nos últimos dez anos enquanto o Ibovespa ganhou 440%, nossa performance em renda variável foi de 600%", afirma Dan Conrrado, presidente da fundação, que investe hoje um total de R$ 164,8 bilhões dos dois planos que possui: benefício definido (em que se concentram mais de 80% de seus recursos) e contribuição definida. "Somos superavitários em R$ 24 bilhões. Não temos com o que nos preocupar no momento", afirma Conrrado, que pagou R$ 9 bilhões em aposentadorias no ano passado. O Previ emprega 600 pessoas e tem como meta engordar seus investimentos em 5% mais INPC este ano.
 
Para muitos especialistas não há com o que se preocupar. "A indústria de fundos de pensão brasileira é uma das mais bem estruturadas do mundo e representa 14,7% do PIB nacional – nos EUA, chega a 70,5% e no Reino Unido a 88,2%. Adotamos controles rígidos de transparência", afirma José de Souza Mendonça, presidente da Abrapp. Mendonça ressalva, no entanto, que o setor tem um grande desafio pela frente: buscar alternativas de investimentos que compensem o novo patamar de juro no Brasil e uma Bolsa que demora a se recuperar. Esses são os dois principais ativos que compõem as carteiras dos fundos de pensão por aqui.
 
O desafio é buscar alternativas que possam gerar mais valor aos investimentos, incluindo o mercado externo. "Estamos de olho nas empresas de tecnologia nos EUA e devemos anunciar algo ainda este ano. É uma forma de diversificar a cesta de ativos. Também queremos aumentar nossa exposição em imóveis de maior valor em até 8% da carteira", diz Conrrado.
 
O presidente da Previ não está sozinho. Dono de ativos da ordem de R$ 16,8 bilhões até agosto deste ano (R$ 100 milhões a menos do que em dezembro de 2012), o Valia, dos funcionários da Vale, vê parte dos investimentos de seus 110 mil participantes seguir na mesma direção. "Estruturamos uma área só para estudar os aportes no exterior. É provável que participemos de fundos com ações globais de empresas que não são negociados aqui", afirma Eustáquio Lott, presidente da Valia. Hoje suas aplicações estão divididas em 61,5% em renda fixa, 21,5% em variável, 3,5% em PE, 7,5% em imóveis e 6% em empréstimo consignado.
 
A Valia acumula R$ 800 milhões em superávit, sem contar os 25% que mantém como reservas de contingência. Possui R$ 1,1 bilhão comprometidos em P.E. "R$ 500 milhões já investidos e R$ 500 milhões a investir", afirma. A rentabilidade total de sua carteira foi de 1,9% até agosto deste ano. Em 2012, atingiu 19%. O Valia mantém 200 empregados diretos e 30 terceirizados.
 
Com um déficit de R$ 2, 344 bilhões no acumulado deste ano, o terceiro maior fundo de pensão do país, o Funcef, dos funcionários da CEF, acredita em uma reversão desse resultado em breve. "Este é apenas um retrato do momento econômico do país e não reflete a evolução de investimentos que são reavaliados anualmente", diz Geraldo Aparecido da Silva, secretário-geral do Funcef, que tem um total de R$ 50,12 bilhões em ativos investidos e conta com 131,3 mil participantes, dos quais 37 mil já aposentados, até julho deste ano. A Fundação Cesp, quarto maior do setor, com R$ 22,6 bilhões de ativos aplicados e 45 mil pessoas sob a sua tutela, sendo 30 mil já aposentados, reservou R$ 50 milhões para começar a testar o mercado externo.