11/07/12

Sustentabilidade no or amento

Nos assuntos sobre sustentabilidade, a abordagem normalmente gira em torno do ambiente, do desperdício de insumos e do custo social de todas as formas de lixo. Por isso, muitos confundem sustentabilidade com ecologia ou ambientalismo. Infelizmente, essa visão é parcial e põe em segundo plano uma série de necessidades cotidianas que, se recebessem cuidados visando um futuro sustentável, reduziriam bastante o ônus das próximas gerações.

Por exemplo, você já se questionou se seus hábitos alimentares são sustentáveis? Muitos dos ingredientes criados para tornar alimentos saborosos são nocivos à saúde, mas são largamente consumidos por anos de nossa vida. Quando os abandonamos no futuro, geralmente é por imposição médica.

Até que abandone maus hábitos alimentares, um adulto já terá viciado seus filhos nos mesmos maus hábitos, pavimentando o caminho certo para doenças graves e gastos maiores com a saúde. Em outras palavras, os maus hábitos alimentares de hoje cobrarão um preço alto lá na frente.

Nas finanças das famílias também cabe o debate sobre sustentabilidade. Muitos acredita, erroneamente, que planejamento financeiro é sinônimo de cortar gastos e fazer poupança. Se esse entendimento for praticado em excesso, poderá lhe garantir um futuro, mas pode também lhe custar um presente que não volta. Já pensou se você corta diversos prazeres para tê-los no futuro e lá descobre que não terá mais saúde para desfrutá-los? E o que falar da economia de seu país, que espera que você gaste seu dinheiro para crescer? Excesso de poupança significa falta de consumo, o que enfraquece o comércio, e com ele também os setores de distribuição, produção e extração.

Se sustentabilidade tem a ver com fazer escolhas que não se tornem impraticáveis no futuro, o planejamento sustentável das finanças deveria ser interpretado como a busca constante pelo equilíbrio. Em vez de foco no corte de gastos e formação de poupança, nossos planos deveriam nos levar a um padrão de consumo que não nos falte amanhã.

Como? Comecemos por melhorar nossa capacidade de fazer dívidas. Se assumimos compromissos a pagar, devemos estar conscientes de que, no mínimo, não seremos impossibilitados de honrá-los. São escolhas ruins as dívidas de prazo muito longo, ameaçadas pelo desemprego ou pela perda parcial ou temporária da renda.

São igualmente ruins os financiamentos cujas prestações pesam no bolso a ponto de inviabilizar a manutenção ou o uso do que compramos. Ao financiar um veículo novo, por exemplo, você deixa espaço no orçamento para estacionamentos, multas e reparos não cobertos pela garantia?

O consumo também deve ser sustentável. Em vez de cortes de gastos, seu planejamento deveria levá-lo a gastar o máximo possível com seu bem-estar, ao mesmo tempo poupando o mínimo necessário para que esse bem-estar não falte no futuro. Repare: não se trata de eliminar gastos hoje para fazê-los no futuro, mas sim gastar hoje o mesmo que você conseguirá gastar no futuro.

Essa equação é viável se você incluir, no presente, uma boa verba para gastos com lazer e qualidade de vida. Para isso acontecer, não há outro caminho a não ser reduzindo o custo de vida, composto pelos gastos fixos com moradia e automóvel.

Não importa qual seja seu nível de renda, sempre será possível comprar ou alugar uma moradia 10% mais barata. Pagando menos, recebemos menos conforto, mas sobra verba para sair de casa e desfrutar regularmente do lazer. Por sua vez, o lazer nos traz bem-estar e motivação, elementos essenciais para nos sentirmos recompensados.

A qualidade no consumo, ou seja, o prazer que obtemos ao consumir nosso dinheiro, é essencial para que tenhamos uma sensação de riqueza. A poupança planejada, que nos traz a certeza de que essa condição de riqueza não faltará no futuro, é o que caracteriza a sustentabilidade.

Quem deixa de adotar esse caminho sustentável irá depender da família ou do governo para custear sua velhice, jogando o ônus para a geração seguinte. Melhor começar a cuidar disso agora, não?