19/06/12

Vida a dois: finanças equilibradas em três passos

Excluindo os clichês que podem cercar o tema, o casamento é um momento especial. Mais que uma união entre duas pessoas, a cerimônia também une dois bolsos, muitas vezes, distintos. E, nesse caso, nenhum romantismo sustenta um orçamento da vida a dois. Para começar a nova fase sem dívidas, o planejamento financeiro deve ser feito antes do “sim”.

Distinguir receitas e despesas seria o primeiro passo. Contudo, quando o assunto é planejamento a dois, é preciso atenção a algumas diferenças entre a organização financeira do casal e a de um solteiro. “É até mais difícil fazer um planejamento quando se está sozinho. Com outra pessoa, é mais fácil porque um incentiva o outro em caso de deslizes”, afirma a gerente do Easynvest, Miriam Macari.

Um solteiro, explica Miria, não tem grandes responsabilidades que conduzam o gerenciamento do seu próprio dinheiro. Dessa forma, ele acaba gastando além do que precisa, porque não tem um direcionamento planejado do que ganha. E somente ele arcará com os erros financeiros que cometer. Um casal, por outro lado, pode cometer erros com as finanças, mas o outro está ali para socorrer.

Primeiro passo: a conversa
Por isso, o primeiro passo para um planejamento eficaz é a conversa. Para o professor de Finanças da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), Mário Amigo, é nessa fase que o casal se conhece financeiramente. “É para um entender como está o orçamento do outro. A situação financeira tem de ser analisada para que os objetivos sejam alinhados. O casal precisa entender que o planejamento é mais importante que aumentar os rendimentos”, considera.

Listar as despesas e as receitas de que cada um dispõe é o primeiro passo para iniciar a vida a dois sem dívidas. A partir daí, fica a critério do casal o modo como eliminarão possíveis débitos. Um pode ajudar o outro a sair do problema. E os dois devem fazer uma poupança antes de se unir de fato. “Pensar em uma poupança de longo prazo, ou mesmo uma previdência complementar, é um meio de compatibilizar objetivos”, afirma Amigo.

Depois de pagar as dívidas, é preciso que as metas sejam estabelecidas conjuntamente. Claro que cada um não precisa abandonar antigos sonhos de consumo para casar sem dívidas, mas é preciso estabelecer prioridades. Um passo de cada vez.

Segundo passo: a festa e o custo da nova vida
Pode não parecer, mas a festa de casamento é o segundo passo para começar a vida de casados com dívidas ou sem elas. Por isso, os dois já devem começar a fazer uma poupança para formar uma reserva para a cerimônia. O coordenador do curso de Gestão Financeira da Veris Faculdades, Fabrício Pessato Ferreira, atenta que esse planejamento não é a toa. Ele calcula que uma festa de médio porte pode custar em torno de R$ 20 mil. “O marco zero é calcular os gastos que serão efetuados e ver de quanto o casal dispõe para realizar a festa”.

Visto isso, é preciso que o casal faça pesquisas incansáveis de preços. Entre os itens que o economista aconselha a dar mais atenção estão o aluguel do espaço onde ocorrerá a festa, a decoração do espaço e da igreja e, principalmente, o bufê. “Especifique tudo em contrato e, se possível, coloque alguém como mestre de cerimônias para averiguar se a quantidade de bebida contratada está sendo efetivamente distribuída”, exemplifica.

Os gastos não param por aí. Até na lua de mel, calcula o economista, o casal pode ter prejuízo. “Cuidado com os passeios de pacotes. Muitas vezes, esses passeios não são os melhores e as agências de viagem tentam empurrá-los porque ganham comissões para fazê-lo”, alerta Ferreira. Depois da viage, organizar a casa nova é um dos momentos mais esperados pelo casal.

Para além dos cuidados da compra da casa, o casal deve ficar atento aos gastos com móveis e eletrodomésticos novos. O economista aconselha fazer estimativas antecipadas de quanto serão os gastos para mobiliar a casa nova. “Uma solução é colocar os móveis e eletrodomésticos mais caros para serem comprados pelos convidados por quotas em sites de presentes”, aconselha Ferreira. Ou mesmo manter móveis e eletrodomésticos de solteiro, fazendo poucas mudanças.

Terceiro passo: mudando hábitos
Fazer o planejamento pode ser até simples. Mantê-lo é que pode se tornar um problema, porque requer mudanças, muitas vezes drásticas, de hábitos. “É difícil mudar hábitos, mas dá para controlar gastos. Quando você faz isso, você vê o quanto dói no bolso”, afirma Miriam. “É importante lembrar que esse planejamento não termina com a compra do apartamento”, reforça.

“Normalmente, o comportamento de consumo de cada um antes de se unir acaba sendo levado para o casamento”, afirma Ferreira. O economista explica, poré, que o casal precisa compreender que o comportamento de consumo agora é a dois. “Nesses casos, o pior erro é exatamente não fazer uma programação de gastos”, considera.

Se eles conseguirem manter um planejamento antes do casamento, depois do “sim”, tudo fica mais simples. Para Mário Amigo, da Fipecafi, isso é uma questão de tempo. “Quanto mais cedo eles tiverem essa conversa e fizerem esse planejamento, mais fácil será essa adaptação, porque você amadurece esse planejamento e age com menos impulso”.

Fonte: Infomoney